Além de caros, os automóveis estão cada vez mais tecnológicos e seguros, mas tem um aspecto que nem sempre acompanha essa evolução: o acabamento interno. Basta dar uma olhada nas redes sociais e constatar muitas reclamações de clientes sobre o excesso ou a totalidade de plástico rígido na cabine de carros, inclusive modelos com preço acima de R$ 150 mil.

Existem marcas que buscam amenizar essa má impressão, mesclando no habitáculo plásticos de diferentes cores e texturas, mesmo que sejam duros; outras até trazem revestimento macio ao toque, mas limitado a alguns locais.

Se você prestar atenção, muitos carros têm acabamento “soft touch” nas portas dianteiras, mas empobrecem o revestimento das portas traseiras. Sem contar os vários modelos fabricados e vendidos no Brasil que, na Europa e em outros mercados, são bem mais caprichados nesse quesito.

Aí fica a questão: para que tanta economia no que se refere ao acabamento? É tão caro assim fazer veículos um pouco melhores nesse aspecto?

Dentre os carros mais baratos, “de entrada”, não tem jeito: o corte de custos dita as regras e o consumidor já espera um interior simples e feito 100% de plástico, em muitos casos.

Em segmentos imediatamente superiores, há menos “pobreza” a bordo, mas novamente a adoção de revestimentos mais sofisticados fica em segundo plano. A situação começa a mudar somente em uma faixa de preço bem mais elevada, como a de carros de luxo.

Em mercados competitivos como o brasileiro, a restrição de custos é uma necessidade para melhorar a margem de lucro e a competitividade“, explica Flavio Padovan, sócio da consultoria MRD Consulting e ex-executivo de montadoras como Volkswagen, Ford e Jaguar Land Rover.

Ele destaca que, antes de determinado produto chegar às concessionárias, diferentes departamentos das montadoras discutem o que é aceitável eliminar dos veículos sem comprometer a qualidade percebida pelo consumidor – que, via de regra, hoje valoriza mais outras características em um veículo.

Existem marcas que priorizam a qualidade e a modernidade mecânica ante aspectos como acabamento interno e seus clientes sabem disso. A economia nesse quesito pode ser pequena em cada veículo, mas a redução passa a ser significativa em grande escala“, destaca o consultor.

Menos acabamento, mais tecnologia

Padovan acrescenta que carros mais simples em relação aos materiais empregados na cabine podem ser bem aceitos, mas precisam “compensar” essa deficiência destacando-se naquilo que hoje mais interessa a potenciais compradores – e, geralmente, custa mais dinheiro do que um painel macio ao toque.

Hoje, a tecnologia, a conectividade e a segurança são itens que agregam maior percepção de qualidade. Se você tem uma tela grande no painel, espelhando tudo o que existe no seu smartphone, você não precisa de muito mais do que isso“.

A primeira geração do Chevrolet Onix é um exemplo dessa tendência: quando chegou ao mercado em 2012, trouxe a mesma predominância de plásticos vista em outros hatches compactos, mas se destacou ao oferecer central multimídia desde a versão intermediária, uma novidade em sua categoria. Foi e é um sucesso de vendas.

Flavio Padovan vai além, lembrando que, mesmo em segmentos superiores, fabricantes têm preferido oferecer um habitáculo mais simples e “limpo”, onde as telas gigantes e sensíveis ao toque são a grande estrela – vide os automóveis elétricos da norte-americana Tesla, que se tornaram sonho de consumo.

Atualmente, os carros são comparáveis a smartphones sobre rodas e o consumidor quer todas as funcionalidades de um celular moderno no próprio carro. Se no passado friso cromado ou superfícies estofadas eram cobiçados e até encareciam os carros, oferecidos como opcionais, hoje o acabamento é menos valorizado entre marcas de grande volume“, conclui o especialista.

Fonte: Uol Carros

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