A disparada nos preços dos automóveis, que faz compactos zero-quilômetro como o Volkswagen Gol chegarem a custar mais de R$ 90 mil, está longe de terminar. Segundo especialistas consultados por UOL Carros, os veículos ainda continuarão encarecendo no ritmo atual por mais um ano, no mínimo. Segundo eles, nada indica que os valores atualmente cobrados serão reduzidos, já descontada a inflação, quando uma das principais causas do sobrepreço acabar: a escassez de semicondutores, que tem paralisado a produção de carros nas fábricas e reduzido os estoques de exemplares novos nas concessionárias – não apenas no Brasil, como nos demais mercados.
“Os preços continuarão mais altos, pois a demanda ainda é maior do que a oferta. A expectativa é de que leve mais um ano para que a disponibilidade de microchips seja regularizada“, avalia Flavio Padovan, sócio da consultoria MRD Consulting e ex-executivo de montadoras como Ford, Volkswagen e Jaguar Land Rover.
Devido ao baixo estoque, pontua, hoje o cliente vai até a concessionária em busca de um carro. “Quando a loja tem o veículo solicitado, vende sem desconto, pelo preço de tabela ou até acima dele. Quando a produção for normalizada, as montadoras voltarão a conceder incentivos para a aquisição, como abatimento no preço ‘cheio’ e crédito facilitado. Contudo, os valores de tabela não voltarão aos patamares anteriores à crise dos microchips e à própria pandemia“.
A falta dos microprocessadores para produzir veículos é consequência da queda “colossal” nas vendas logo no início da pandemia, que levou as montadoras a cancelar pedidos aos fornecedores – que, por sua vez, passaram a direcionar a maior parte da produção a fabricantes de eletroeletrônicos, como celulares e computadores, cuja demanda estava e continua aquecida.
E os carros usados?
Não é segredo que os preços dos carros usados também estão nas alturas, a reboque dos valores cobrados por unidades zero-quilômetro. A longa espera por veículos novos tem levado consumidores a buscar seminovos disponíveis a pronta entrega – o que tem feito com que carros já rodados estejam mais caros do que exemplares zerados, dependendo do ano e do modelo. “Os preços dos usados e seminovos continuarão altos enquanto persistir esse cenário de restrição à oferta de produto novo“, crava Flavio Padovan.
Em outubro, as vendas de veículos de segunda mão tiveram queda de 8,5% em relação a setembro. Porém, no acumulado do ano, houve aumento de 28,9% em relação aos primeiros dez meses de 2020. Para Pagliarini, a redução nas transações no último mês é reflexo dos preços excessivamente elevados e um indicativo de que vão parar de subir.
“É verdade que, devido aos feriados, outubro teve menos dias úteis em relação ao mês anterior. Entretanto, mais importante do que isso, os preços dos usados aumentaram tanto que houve um arrefecimento do mercado. Acredito que a valorização do carro usado já bateu no teto“. Matías Fernández Barrio, CEO da Karvi, plataforma online de compra e venda de carros no Brasil e na Argentina, diz não acreditar que os usados e os seminovos voltem aos patamares anteriores à pandemia, mas concorda que os preços não devem se manter tão elevados.
“O consumidor hoje tem uma ótima moeda de troca em mãos, é o momento certo de trocar, aproveitando a alta valorização do usado“.