A política de combustíveis no Brasil continua errática e com alto grau de improvisação. Exemplo mais recente é a lei já aprovada que autoriza o aumento do teor de etanol anidro de 25% para 27,5%, desde que testes comprovem viabilidade técnica. Uma lei condicional! Não seria mais lógico primeiro fazer todas as avaliações e, se aprovada a nova mistura, então encaminhar projeto de lei ao Congresso Nacional?
Motores modernos têm condição de lidar com esse aumento de mistura sem problema de partida a frio ou falhas de aceleração. Os testes conduzidos pela Petrobras deverão indicar isso, mas ninguém deu atenção aos motores antigos com carburador ou injeções de combustível de primeira geração.
Além disso, o consumo pode aumentar marginalmente. A gasolina padrão prevista no Inovar-Auto, que determina os limites de emissões e metas de eficiência energética, contém apenas 22% de etanol. Com 25%, o motorista já perde um pouco em consumo; com 27,5%, mais ainda.
Fábricas acomodadas, governo atrapalhado.
O governo tem feito trapalhadas. Em meados do ano, resolveu estimular a melhoria relativa de consumo/autonomia entre etanol e gasolina em motores flex, porque a indústria se acomodou e hoje mal consegue manter a paridade esperada de 70%. A nova lei sinaliza apenas que “poderá” haver abatimento de imposto para veículos que alcançarem relação acima de 75%.
Com a tendência de aplicação de turbocompressor, particularmente ótimo em motores flex, por aproveitar bem melhor as características químicas do etanol, não seria difícil atingir a meta, embora a custo maior. Porém, enquanto não for divulgado quanto cairia o imposto e se o incentivo vale por versão, modelo ou média de tudo que produz, nenhuma fábrica vai se mexer. Algumas estão até contrariadas, em especial as que, por pura miopia, têm motores bicombustível com desempenho sofrível quando bebem etanol.
Melhorias à frente
No recente Seminário Internacional de Combustíveis, organizado pela AEA em São Paulo, ficou explícita a discórdia entre governo, agência reguladora (ANP) e Petrobras — a responsável, na prática, por toda a gasolina vendida no país. Em dezembro de 2009, decidiu-se que o Brasil passaria a trabalhar só com gasolina aditivada em janeiro deste ano, assim como na maioria dos países com grandes frotas. A proposta não foi concretizada e acabou adiada para julho de 2015. Ou seja: uma finge que regulamenta e a outra finge que não entende.
De qualquer forma, a atual gasolina S50 (50 ppm de enxofre), de melhor qualidade e obrigatória desde 1º de janeiro último, evoluirá dentro de menos de um ano (se não houver outro atraso), graças a aditivos detergentes e dispersantes para limpar e manter limpos injetores, válvulas, câmaras de combustão e coletores. Além de tentar prever a forma como o mercado reagirá a uma gasolina 100% aditivada, o seminário também debateu a qualidade mínima desses aditivos, os riscos de uso em excesso e a descontaminação das estruturas de transporte.
As distribuidoras deverão se preparar para uma guerra de comunicação ainda maior em meados do próximo ano. Há aditivos específicos de redução de atrito entre pistões e cilindros, com potencial de discreta melhora de desempenho e até de consumo, que se somam aos aditivos detergentes-dispersantes. Cada uma terá de convencer o consumidor que a sua gasolina é superior à do concorrente.
Fonte: Uol Carros